09 outubro, 2019

como planta que cresce no concreto

me prendes e me soltas
me amarro e tento deslaçar os nós

e a gente se embola
e se encontra no espaço do peito aberto
do suspiro intenso
como planta que cresce do concreto

a gente
resiste
insiste

no olho que não quer ver que já é
mas a gente vê
a gente é

é tanto
tudo
imenso

me assusta e me suspira
me descubro mais em mim
me desnudo mais pra ti

nos desnudamos no descobrir-si um do outro
e o outro em mim

24 janeiro, 2019

do cotidiano, poesia

o tempo passou pela janela
deixei-me acompanhar por inteiro, o movimento das nuvens
e me permiti compreender seus tempos e nossos instantes

o sol nos aqueceu suando minha taça,
que tinha seu gosto,
e minha nuca,
que tinha seu cheiro
acompanhei o escorrer das gotas que dançavam tão lentamente

vimos a Bahia e vivemos suas cores intensas que enche a alma e aquece o peito
nos inspiramos nas palavras e no caminhar lento de Caymmi
permitimos que a vida passasse diante dos olhos,
sem pressa, sem cortes; inteira!

cada detalhe inspirava
as palavras de mestre pastinha nas paredes do bairro,
o arrepio na pele
a emoção nas lembranças do reconstruir de filmes,
dos beijos não dados,
dos dados e, dos que nunca esqueceremos

fizemos cenas de filme com o cotidiano,
que quando não está corrido é lindo,
é cheio de memória, de história.

vimos as palavras da Bahia sendo faladas por bocas e corpos
pelas gentes que nos atravessaram e nem sabiam que o fazia.

as sincronicidades nos acompanharam
a união do Vitória com o Bahia
no mesmo passo do acaso

vivemos!
do dia, poesia.
do tempo, morada.
do corpo, entrega.